Renascer da Escuridão

Esta manhã acordei e tu não estavas aqui. Pensei que te tinhas ido embora de vez e que hoje seria o dia de eu finalizar tudo aquilo que tinha pendente. Levantei-me cheia de energia, vesti-me, lavei os dentes, penteei o cabelo, olhei-me ao espelho e sorri. Estava pronta para enfrentar um novo dia.

Saí de casa e tudo parecia estar a correr lindamente. Já não te tinha ao meu lado para me arruinar todos os meus planos. A sugar a minha energia, a devorar a minha mente, a roubar-me toda a motivação e o pior, a impedir-me de sonhar e de acreditar num dia melhor.

Estava a meio de uma prova decisiva quando decidiste regressar de rompante. A tua voz gritava dentro da minha cabeça:

"Não vais conseguir!"

"Vais falhar!"

"Desiste!"

"És uma fraca!"

"Eu sou mais forte que tu!"

"Não me consegues derrotar!"

Só me apetecia gritar em retorno, mas não fui capaz. Sentia um aperto no peito. Queria que desaparecesses mas já me tinhas sugado a energia e acabei por me entregar de novo.

Regressei a casa com o coração a palpitar. Tudo à minha volta parecia gigante e eu era cada vez mais pequena. Sentia-me sem ar. Inspirava profundamente e o ar entrava com dificuldade. Expirava tentando libertar o medo que sentia, mas não conseguia. Não conseguia controlar a respiração. Parecia que ia morrer. Não só tinha falhado na prova como tinha deixado que te apoderasses de mim pela milionésima vez.

Sentia-me desesperada. Já não sabia o que fazer para te expulsar da minha mente. Cheguei a casa, pensei que seria um alívio, mas não. Contigo não me conseguia sentir segura nem na minha própria casa. Milhares de imagens surgiram na minha cabeça. E se... Não... Não o vou fazer... Tem de haver outra solução...

Só queria começar do 0. Voltar a viver a minha vida como sempre quis. Sem te ter por perto. Antes de teres invadido a minha mente. Queria morrer para renascer. Não podia continuar a viver assim como se fosse sufocar todos os dias.

Se ia deixar de viver, porque não morrer ali mesmo?

Olhei à minha volta. Abri a gaveta. Retirei uma faca e fiquei a observá-la. Tão fina. Tão perigosa. Tão letal. É agora...

Estava quase a realizar o grande feito, a lâmina cada vez mais próxima da minha pele, quando subitamente ouvi uma voz diferente.

"Vais mesmo desistir?"

"Vais deixar tudo para trás?"

"Então e aqueles que te amam e que acreditam em ti?"

"Vais deixá-los?"

"E tudo aquilo que já alcançaste?"

"É mesmo isso que queres?"

As lágrimas escorreram pelo meu rosto. Eu não queria desistir. Tinha lutado tanto para desistir agora que estava quase a ver-me livre de ti. Mesmo contigo a derrubar-me, eu tinha conseguido grandes feitos. Chamaste-me de fraca, mas não é verdade. Sempre fui mais forte que tu, porque mesmo contigo a dizer-me que não ia conseguir eu não deixei de o fazer e de te provar que era capaz. Eu não sou uma desistente. Hoje voltaste porque percebeste que já não tinhas poder sobre mim e vieste mais forte. Mesmo assim, lamento desiludir-te, mas não vais ter o que queres.

Voltei a colocar a faca na gaveta e ouvi-te ao longe a gritar de desespero. Depois seguiu-se o silêncio, uma paz como nunca tinha sentido.

Dirigi-me à casa de banho. Observei o meu reflexo no espelho com admiração. Tinha conseguido. Tinha-te finalmente expulsado da minha vida. Sorri para mim. Naquele reflexo via uma lutadora, uma sonhadora, uma rapariga incrível e que eu nunca tinha dado o devido valor.

Podias regressar, mas já não ias ter mais poder para decidir por mim. As tuas palavras de derrota seriam a motivação da minha força. Em vez de me derrubares, estarias a dar-me força para me reerguer. A partir daquele dia, era eu quem estava no controlo.

Senti um alívio tão grande. A minha vida estava a recompor-se ao fim de todos aqueles anos. Naquele dia eu tinha de facto morrido e estava agora a renascer para uma nova vida. Uma vida onde eu sou a protagonista e sou livre para fazer as minhas escolhas.

A vida é feita de mortes e renascimentos. Quem sofre de ansiedade ou depressão sente como se fosse morrer a qualquer momento. Têm medo. Sentem-se sós. E acham que a vida não tem mais sentido. Não percebem que é esse medo que as está a impedir de viver e que são elas que escolhem viver com esse medo todos os dias.

A ansiedade vai-nos matando lentamente. Hoje deixas de fazer uma prova, amanhã deixas de ir a uma festa porque vai estar lá muita gente que não conheces e quando dás por ti já não consegues sair mais de casa. Estás preso dentro da teia que a tua mente criou.

Nem sempre é fácil sair da nossa teia sozinhos, por vezes é necessário pedir ajuda. E isso não é um sinal de fraqueza, muito pelo contrário. Não há vergonha nenhuma em ser ajudado.

Quando finalmente nos libertamos, é um novo começo. Renascemos da escuridão dos nossos medos e começamos a viver os nossos sonhos.

Não é fácil, mas com força de vontade e com o apoio daqueles que nos rodeiam, é possível!

Se conhecem alguém que sofra de ansiedade ou depressão tentem demonstrar compreensão e se não souberem como ajudar encaminhem essa pessoa para um especialista, um psicólogo, terapeuta... Este é um problema cada vez mais comum nos jovens e adultos nos dias de hoje e cabe-nos a nós fazer algo para mudar isso.

Este texto tem o objectivo de mostrar a quem nunca passou por isto nem compreende o que é ansiedade ficar a saber o que acontece dentro da mente de uma pessoa que tem ansiedade. Para além disso, é uma mensagem de esperança e incentivo a todos aqueles que sofrem deste mesmo problema. Nunca desistam! Vocês são mais fortes do que imaginam e são capazes de tudo! Não deixem que os vossos medos vos impeçam de viver! 

Sejam felizes!


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